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PRINCÍPIO DAS DORES, O PRINCÍPIO DO FIM: A CRONOLOGIA DO SINAL DO FIM DOS TEMPOS APRESENTADA POR JESUS NOS EVANGELHOS SINÓTICOS

 INTRODUÇÃO

Quando se fala em fim dos tempos, ou fim do mundo, é notório que esse tema gera em muitos medo e calafrios. Há aqueles que nem sequer gostam de tratar ou estudar tal assunto, tamanho pavor que se cria essa temática. Por outro lado, há também aqueles que se interessam e buscam elucidar um tema que ao longo da história levantou tantos debates e gerou tantas controvérsias. Verdade seja dita, não é um tema fácil, mas tanto os que creem em Deus, ou deuses, tanto os que não têm credo nenhum, admitem que um dia tudo o que se conhece irá ter um fim, uma destruição e que o mundo, como hoje é conhecido, será destruído. O que muda são as formas que cada um acredita de como tudo isso se dará, quer com a volta de Cristo, com um apocalipse zumbi, ou mesmo a explosão de uma estrela próxima de nosso planeta, como o Sol.

Tendo em mente a certeza de que tudo o que existe, toda a natureza, humanidade, a mais bela paisagem, bem como o mais terrível lugar, tudo um dia passará a não existir mais, surge então algumas perguntas importantes e, ao mesmo tempo, difíceis de serem respondidas. Como se dará o fim? Por qual meio? Quando? E com o intuito de tentar respondê-las, algumas linhas serão dedicadas para trazer luz a tais indagações. Para tanto, será delimitado o pensamento ao que as Escrituras tratam a respeito do fim, mais especificamente quando começará o fim.

Com isso tudo bem definido, parti-se á do princípio bíblico que assim como foram criados os céus e a terra, (Gn 1:1) um dia haverá de ter um novo de Deus, prometido por seu Cristo, um novo céu e uma nova terra (Ap 21:1).

Desta forma, baseando-se nas palavras de advertência de Jesus a seus discípulos em relação ao futuro, principalmente com a atenção com os sinais que se dariam, dedicar-se-á  atenção a frase de Jesus sobre alguns sinais que poderiam de fato apontar para uma iminente manifestação do fim dos tempos, tais como guerras, fenômenos da natureza, doenças etc. O que poderia simbolizar o fim é descrito por Jesus apenas como “o princípio das dores” (Mc 13:8b). Logo, o próximo ponto a ser bordado é exatamente o que é o princípio das dores.

 

1. O QUE É “PRINCÍPIO DAS DORES”?

Jesus usa de uma figura de linguagem ao comparar o trabalho de parto de uma mulher ao que seriam as prévias dolorosas que resultariam em algo bom logo em seguida. Dewey M. Mulholland sobre esse tema relata: “Para uma mãe em trabalho de parto, o começo de dores do nascimento significa que maiores dores virão. Não obstante essas dores são para ela a promessa de que sua longa espera está quase no fim.” (MULHOLLAND, 1999), o mesmo princípio é usado pelo apóstolo João onde diz: “A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo.” (Jo 16:21). Ou seja, aquele sofrimento momentâneo dará lugar a alegria da chegada do filho, Jesus promete que essa tristeza e sofrimento que se dará perto do fim será recompensada quando Ele retornar em glória e poder para salvar seu povo escolhido.

 

Após a manifestação de Cristo, sua ascensão aos céus e promessa de retorno, muitos sinais descritos por Ele aconteceram e continuam a acontecer ao entorno da Terra, o que levanta sempre a expectativa do fim, da volta de Cristo e do juízo final. Morris disserta:

“Jesus adverte Seus seguidores a não ficarem assustados com as guerras e acontecimentos semelhantes. Tais calamidades virão, bem como os fenômenos físicos tais como terremotos, epidemias e fome, e grandes sinais no céu, i.é, entre as estrelas, não especificados.” (MORRIS, 1983).

 

Em linha semelhante comenta o Rev. Leandro Lima: “Ao abrir o Novo Testamento, o leitor logo toma consciência de que eventos escatológicos estão se cumprindo, enquanto que outros estão sendo preditos.”  (LIMA, 2018). Jesus já previa que muitos sinais poderiam enganar ou criar uma ansiedade em seus discípulos o que poderia desencadear em uma tristeza e frustação, caso parecesse demorada a sua volta. Por isso o texto diz “acautelai-vos; ninguém vos engane” (Mc 13:5), pois de fato é fácil enganar com falsos sinais aqueles que estão tão ansiosos e que acreditam em qualquer história, desde que vá de encontro ao que se espera que aconteça.

 

Assim o princípio das dores pode ser descrito como o início do fim, os sinais que apontam para algo doloroso que se aproxima, mas assim como a mãe sabe que após o parto poderá contemplar a face de seu amado filho, a igreja sabe que contemplará a face de seu noivo.

 

2. O PRINCÍPIO DAS DORES JÁ ESTÁ ACONTECENDO?

Agora que já se sabe o que é o princípio das dores, surge outra importante e difícil pergunta, o princípio das dores já está acontecendo? Se for considerado a gama de sinais que já aconteceram e os outros tantos que estão acontecendo nesse exato momento, já é suficiente para se dizer que está decorrendo esse evento? Buscar-se-á abordar parte a parte os textos narrados pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas afim de tentar elucidar essa dúvida.

Antes de se pensar mais profundamente sobre o tema, é preciso considerar que ele é um assunto escatológico, ou seja, que trata de eventos futuros ou do fim dos tempos como o próprio nome diz. Grudem define bem o tema ao dizer que: “O estudo de eventos futuros é muitas vezes chamado de “escatologia”, segundo a palavra grega eschatos, que significa “último”.” (GRUDEM, 2012). Outra característica é o uso de símbolos, como descreve Broadus: “Provavelmente, a característica principal da literatura apocalíptica é o uso de símbolos para apresentar a mensagem escatológica.” (HALE, 1983). Para Tasker, o evangelista Mateus dá uma diretriz confiável aos servos de Cristo que o futuro para esses não é um mistério completo, pois Jesus dá spoilers - usando um termo mais popular na atualidade - quanto ao que nos aguarda à frente. Tasker comenta:

Mateus 24.5-14 dá uma direta antecipação de toda a história futura (com referência à questão sobre a consumação do século), advertindo os discípulos de que as catástrofes seculares não devem ser tomadas como sinais do iminente fim da história; prevendo, resumidamente, a perseguição da igreja movida pelo mundo; e levando a um agudo clímax que prediz deserções da igreja, falsos profetas, e decadência espiritual e traições dentro do próprio corpo cristão ... e culminando com a profecia da proclamação universal do Evangelho do reino — ‘Então virá o fim’. (TASKER, 1980)

Com isso em mente é preciso ter cuidado para não interpretar de maneira equivocada o que o texto diz e muito menos acrescentar ao texto o que não se encontra lá. Assim sendo, faz-se necessário se ater nas palavras de Jesus como um norte rumo a melhor interpretação da sequência apresentada até que se chegue o fim.

 

2.1 Muitos virão em meu nome. (Mc 13:6)

Jesus é o Cristo de Deus, filho unigênito do Pai e salvador de seu povo, isso para um cristão é uma verdade inegociável, todavia o Senhor já advertira seus discípulos que novos cristos surgiriam e novos profetas profetizariam falsamente em seu nome. Se for enumerar a quantidade de religiões que surgiram com a justificativa de seus fundadores sendo a obtenção de novas revelações divinas, várias linhas seriam necessárias e, ainda assim este assunto não se esgotaria. Desde Mórmons a Testemunhas de Jeová, cada grupo surgiu em nome de “deus” disposto a anunciar um novo mandamento e uma nova doutrina.

Wayne Grudem relata em sua sistemática que:

“E os alertas também são dados para impedir que os que creem se desviem, seguindo falsos messias: “Então, Jesus passou a dizer-lhes: Vede que ninguém vos engane. Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu; e enganarão a muitos. [...] Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis” (Mc 13:5-6,21). Assim, os sinais são dados para impedir que os cristãos sejam surpreendidos por esses eventos notáveis, para lhes garantir que Deus os conhece de antemão e para impedir que sigam supostos messias que não vêm da maneira como Cristo virá: de modo extraordinário, visível, vencendo o mundo.” (GRUDEM, 2012).

Em linha semelhante Tasker aborda:

O povo escolhido de Deus naturalmente aguardaria cheio de expectação o retorno de Cristo e lhes daria socorro durante os dias desta tribulação. Haveria, pois, o perigo, contra o qual Jesus agora adverte os seus discípulos, de dar ouvidos a rumores de que o Messias tinha voltado e podia ser visto em algum ponto isolado do deserto da Judéia ou em algum recinto fechado da cidade sitiada. (TASKER, 1980).

E complementa dizendo:

Não obstante, os eleitos teriam de suportar sozinhos a angústia daqueles dias terríveis, pois não seria então, enquanto as “águias” do exército romano desciam sobre o “cadáver” da cidade, que o Filho do homem viria vingar o seu povo. Além disso, de sua vinda final não haveria sinais preliminares. Ela seria tão instantânea e tão universal como um relâmpago. (TASKER, 1980).

Ou seja, não apenas os cristãos dos tempos de Jesus poderiam ser enganados com a notícia de um retorno salvador de Jesus no período da tribulação ocorrida entre os anos 66-70 d.C., como os demais servos de Cristo poderiam se deixar enganar pelo anúncio da tão esperada volta messiânica e consequentemente sua vitória sobre o mal. Todos esses são motivos suficientes para se estar atento e vigilante aos sinais e aos falsos sinais. Jesus predisse que viriam em seu nome, portanto, para não ser enganado é preciso conhecer o que Ele disse e também o que Ele não disse.

 

2.2 Quando, porém, ouvirdes de guerras e rumores de guerras (Mc 13:7)

O homem é um ser de extrema inteligência, porém utiliza de toda essa sabedoria para o mal, em sua obra o Rev. Hernandes Dias Lopes cita que: “Segundo pesquisa do Reshaping International Order Report, quase 50% de todos os cientistas do mundo (500.000) estão trabalhando em pesquisas de armas de destruição. Quase 40% dos recursos das nações são colocados na pesquisa e fabricação de armas.” (LOPES, 2006).

Grande parcela da ciência é destinada para buscar métodos de matar. Em geral, quando se fala em ciência, a primeira coisa que a maioria pode pensar é em meios de curar doenças ou em remédios que reduzam o sofrimento. O advento da COVID-19 talvez tenha sido o período recente da história onde mais se esperou da ciência, esperou-se a cura, os tratamentos, a vacina e solução final para esse terrível vírus que ceifou tantas vidas, mas ao mesmo tempo, outra parcela da ciência estava por finalizar novos dispositivos para matar, como os mísseis de longo alcance ou os drones kamikazes que voam sem volta nos céus do inimigo. As guerras não são novidade, desde o início da humanidade o homem está em batalhas, desde o Éden há guerras e, por mais que o terror delas cause medo e sofrimento, Jesus também precaveu que haveria de se levantar nação contra nação, o que poderia soar estranho para os discípulos, uma vez que imperava a Pax Romana¹, e até aquele momento não havia nação ousada ou forte o bastante para ameaçar Roma.

Nos dias atuais a humanidade está submersa em tensões em diversas partes do mundo, como as guerras Rússia X Ucrânia, Israel X Palestina, e as escaramuças entre China X USA. Para um cristão ansioso ao retorno de seu Senhor, são sinais mais do que suficientes para apontar para um breve retorno de Jesus. Mas será mesmo que o fim chegou? Como citado anteriormente, guerras e conflitos, doenças, fenômenos naturais, tudo isso vem ocorrendo ao longo dos anos. Então, onde se enquadra esses acontecimentos? Jesus apresenta esse cenário a seus discípulos onde diz:

Quando vocês ouvirem falar de guerras e rumores de guerras, não se assustem; é necessário que isso aconteça, mas ainda não é o fim. Porque nação se levantará contra nação, e reino, contra reino. Haverá terremotos em vários lugares e também fomes. Essas coisas são o princípio das dores. (Mc 13:7-8 NAA).

Durante a história da humanidade o que muito se repetiu foi o cenário das guerras. Nações que se levantaram e buscaram a hegemonia regional e por que não dizer mundial. O Rev. Hernandes Dias Lopes em sua obra cita:

 

Ao longo da História tem havido treze anos de guerra para cada ano de paz. Desde 1945, após a Segunda Guerra Mundial, o número de guerras tem aumentado vertiginosamente. Registra-se mais de 300 guerras desde então, na formação de nações emergentes e na queda de antigos impérios. A despeito dos milhares de tratados de paz, os últimos cem anos foram denominados o século da guerra. Nos últimos cem anos já morreram mais de 200 milhões de pessoas nas guerras. (LOPES, 2006).

Por mais que a corrida nuclear iniciada na Guerra Fria tenha levado a humanidade a acreditar que o mundo poderia acabar em uma grande guerra de proporções nucleares, Deus continua no controle de toda a história. Assim como o controle do início do mundo foi todo e exclusivo de Deus, não há como pensar que o fim será diferente. As guerras são um sinal, mas não o fim em si.

 

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¹pax romana foi um período assim denominado pela tomada de controle sobre um amplo território, garantindo certa estabilidade e tranquilidade. O termo é da língua latina, e significa a paz romana. Disponível em: https://www.infoescola.com/historia/pax-romana/. Acesso em: 28 dez. 2023.

2.3 Em vários lugares haverá terremotos, epidemia e fome (Lc 21:11)

2.3.1 Os fenômenos naturais

Os abalos sísmicos que hoje se vê destruir por completo países inteiros, já eram conhecidos no tempo de Jesus, no próprio dia da crucificação um terremoto aconteceu e dos sepulcros ressuscitaram mortos (Mt 27:51-52). A geração atual já se assustou com o Tsunami que atingiu o Sudeste Asiático em 20062 com ondas que chegaram a atingir 30 metros de altura destruindo tudo que encontrou pela frente; no ano de 2010 um terremoto de magnitude 7 abalou o Haiti3, um dos países mais pobres do mundo, localizado na América Central; e, mais recentemente, foi a vez da Turquia em 2023 sofrer com o tremor de magnitude 7,8 onde estima- se que mais de 2.300 pessoas vieram a óbito4. Esses são apenas alguns exemplos de fenômenos que a natureza gera com força tamanha que o homem não é capaz de evitar.

 

2.3.2 Das pragas e doenças

Nos tempos bíblicos as doenças já vitimavam muitas pessoas, doenças que nos dias atuais são facilmente tratáveis, como a hanseníase, antiga lepra, que hoje, com os medicamentos certos, em poucos meses já se tem a cura completa, algo que não ocorria nos tempos antigos. Lepra era sinal de morte e sofrimento. Se recuar ainda mais no tempo com certeza será lembrado das pragas lançadas por Deus no Egito, como narra o livro do Êxodo, e como aquilo causou grande pavor ao povo egípcio.

O homem é capaz de evoluir cientificamente a tal ponto que a cada ano que passa novas curas são descobertas e novos procedimentos cirúrgicos aprimorados, mas ainda sim não consegue se prevenir de tudo, como destaca o Rev. Hernandes Dias Lopes:

A ciência, mesmo com seu espantoso crescimento, é desafiada, todos os dias, com o surgimento de novas pragas nos campos e de novas doenças entre os humanos. Em virtude do crescimento demográfico colossal, bem como da promiscuidade sem fronteiras, essas epidemias avançam mais açodadamente ainda. (LOPES, 2017).

 

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² Porto Editora – Maremoto no Sudeste Asiático na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. Disponível em https://www.infopedia.pt/$maremoto-no-sudeste-asiatico. Acesso em: 27 dez. 2023.

³ G1.Terremoto de magnitude 7 destrói prédios e provoca devastação no Haiti. 2010. Disponível em: https://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1444716-5602,00-TERREMOTO+DE+MAGNITUDE+DESTROI+PREDIOS+E+PROVOCA+DEVASTACAO+NO+HAITI.html. Acesso em: 27 dez. 2023.

4 CNN. Terremoto de magnitude 7,8 deixa mais de 2.300 mortos na Turquia e na Síria. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/terremoto-de-magnitude-78-atinge-o-sul-da-turquia/. Acesso em: 27 dez. 2023.

O ano de 2020 foi sem dúvidas o ano mais desafiador do século XXI, onde toda a ciência e tecnologia se viu rendida ante a COVID-19. Por mais que uma pessoa se ache preparada e protegida, somente Deus pode prever o futuro e somente a ele pertence o viver e o morrer. Epidemias ou mesmo pandemias não são algo novo no mundo, mas também não será em um Apocalipse Hollywoodiano que o mundo findará. 

 

2.3.3 Das fomes

Se dez pessoas no mundo fossem encolhidas aleatoriamente e lhes fosse perguntada o que a frase “fome no mundo” lhes traz à mente, é provável que a grande maioria delas citasse a África como resposta. De fato, o continente Africano sofre com a fome e a miséria, mas novamente deve-se lembrar que a fome não é algo novo. Nas Escrituras há relatos de períodos de grande fome e escassez, como aquela que levou os irmãos de José irem ao Egito em busca de comida, como narrado em Gêneses. O próprio Jesus descreve em parábola um homem chamado Lázaro que vivia nas ruas e as migalhas da mesa do rico lhe eram desejadas (Lc 16:20-21), um cenário descrito por Jesus que era absolutamente comum na época. Igualmente, ao andar pelas ruas das metrópoles o que não faltará serão pessoas necessitadas, desabrigadas e com fome. A fome dói, não apenas na barriga, mas também na alma e no coração. A fome é uma triste realidade de milhões de pessoas no mundo, mas a fome não é o fim.

 

2.4 Muitos haverão de abandonar a fé (Mt 24:10)

No meio cristão uma realidade que escandaliza ou mesmo emudece outro cristão é o fato de por vezes presenciar-se pessoas que outrora eram fervorosos crentes, homens e mulheres que aparentavam ser cheias de Deus, mas que subitamente abandonam a fé, saem da igreja e começam a praticar atos terríveis que desagradam a Deus. Ao presenciar tal acontecimento, é de se espantar, contudo não é inédito. O apóstolo João em sua carta diz: “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.” (1 Jo 2:19). A aparente debandada na igreja primitiva assustou alguns irmãos, mas o experiente discípulo de Cristo logo tratou de não deixar o coração dos irmãos se abater. Se dará no futuro uma apostasia tamanha que muitos abdicarão do nome de cristão e apostatarão da fé como narra o apóstolo Paulo: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios” (1 Tm 4:1).

O abandono da fé, as novas crenças e doutrinas que surgem, os falsos mestres que atraem multidões, são mais um sinal de que as promessas de Jesus estão se cumprindo.

 

2.5 Importa que o evangelho seja primeiramente pregado entre todas as nações. (Mc 13:10)

Desde o ide de Jesus a seus discípulos, o evangelho vem sendo pregado ao mundo, quando se analisa a forma gradativa como a mensagem de Cristo vai saindo das fronteiras de Jerusalém, como no exemplo de Pedro pregando em Lida, Sarona, Jope até chegar a não planejada viagem a Cesareia Marítima (At 9:32-43; 10:1-48), é nítido observar a forma gradual que o Espírito Santo foi conduzindo o apóstolo para longe da então capital do cristianismo, Jerusalém, até mais a frente conquistar o mundo da época com as viagens do apóstolo Paulo. Se igualmente se considerar a expansão do evangelho pela Europa e Ásia, dos missionários na África e Américas, Oceania e oriente médio, pode-se concluir que o evangelho de fato já chegou ao mundo todo. Aqueles que seguem essa lógica tomam por base o texto de Paulo em Colossenses onde o apóstolo diz: “por causa da esperança que vos está reservada no céu, da qual já ouvistes pela palavra da verdade, o evangelho, que chegou a vós, também está em todo o mundo, frutificando e crescendo...” (Cl 1:5-6). Analisando essa lógica, Grudem destaca: “é improvável, mas possível que esse sinal se tenha cumprido inicialmente no primeiro século e muitas desde então, em sentido mais amplo.” (GRUDEM, 2012)

De fato, crê-se ser improvável que o mundo inteiro já tenha sido alcançado, uma vez que há centenas de línguas ainda não evangelizadas e países onde a perseguição só aumenta, ainda existem pessoas que não sabem que Jesus veio a mundo e padeceu para salvar seu povo. Por mais que Paulo tenha se referido ao mundo que ele vivia à época, ele não parou de evangelizar por acreditar que não havia mais ninguém a pregar, muito pelo contrário, sua incansável missão foi cumprida até sua morte, onde o orgulhoso apóstolo disse: “combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4:7). A missão da evangelização não foi findada por Paulo. Ainda é necessário pregar para que muitos creiam, se arrependam e se convertam, pois ainda não é chegado o fim.

 

3. O POVO DE CRISTO AGUARDA, NÃO TEME

Quando se analisa as analogias descritas nas Escrituras de como a noiva aguarda pelo noivo, da mesma forma a igreja de Cristo o aguarda, é difícil imaginar uma noiva com medo de contemplar a face de seu amado. O povo de Deus, a noiva de Cristo, anseia pelo noivo, aguarda com ânsia o resgate, não há espaço para o medo quando se trata do retorno de Cristo com poder e autoridade para julgar as nações e arrebatar toda a sua igreja para a glória. Para receber a coroa da justiça é preciso perseverar até o fim, logo, chegará um fim. Todo atleta que sonha em subir ao pódio sabe que para tal é necessário chegar até o fim, seja na linha de chegada ou ao término do tempo da competição, para ser premiado é necessário haver um fim. Não é diferente na vida cristã, Dewey M. Mulholland em seu comentário em Lucas destaca: “Jesus encoraja seus seguidores a que fiquem firmes até o fim, confiantes de que o levar a cruz e o evangelismo é a vontade de Deus, que deve ser cumprida antes da parousía. Eles perseveram até o fim porque o Espírito Santo (v. 11) os sustenta na sua fé genuína.” (MULHOLLAND, 1999).

 

O temor é parte do sentimento humano, no entanto as Escrituras asseguram que nada ocorre fora dos planos do Senhor, por mais dor e sofrimento que o fim haverá de trazer consigo, a boa notícia descrita na Bíblia é que haverá um fim, e o que se sucederá logo em seguida será o cessar de toda dor, assim comenta o Rev. Hernandes Dias Lopes: “No novo céu e na nova terra não haverá dor (21:4). A dor é consequência do pecado. A dor física, moral, emocional, espiritual não vão entrar no céu. Não haverá mais sofrimento. Não haverá mais enfermidade, defeito físico, cansaço, fadiga, depressão, traição, decepção.” (LOPES, 2005).

 

As Escrituras descrevem um Deus que ama seu povo e se preocupa com ele, mesmo os textos bíblicos descrevendo uma aparente derrota e perseguição como se pode ver Jesus alertando: “Sereis odiados por todos por causa do meu nome, mas quem perseverar até o fim, esse será salvo.” (Mc 13:13). Mesmo perseguidos e presos, a resposta de Jesus é que ainda assim a salvação os aguarda, basta perseverar e crer. Calvino em uma de suas pregações comenta:

É como se dissesse: “Aqui estão os seus inimigos e perseguidores. Você ainda duvida que Deus considera suas aflições e tem piedade de você? Pensa que Deus não leva em consideração a Sua própria glória e que não está disposto a defendê-la? Mesmo que os adversários o ataquem porque você segue o Evangelho, Deus, ao defender a Sua própria causa, será o seu Defensor.” (CALVINO).

 

Jesus há de retornar para resgatar os seus servos fiéis, há de julgar as nações, há de enxugar toda lágrima, o povo escolhido e reservado não tem motivos para temer, Jesus retornará em poder e glória, como defende Calvino em sua exposição: “Mas Ele não voltará em semelhante condição humilde. Ele virá com os anjos da Sua glória! Isso é o que o Apóstolo Paulo quis dizer afirmando que a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo será terrível.” (CALVINO).

4. OS SINAIS NÃO SÃO PARA MARCAR UMA DATA ESPECÍFICA

 

Muito se tem tentado marcar uma data no calendário humano para marcar o retorno de Cristo. Alguns tentam fazer das profecias e sinais descritos na Bíblia como uma Cabalá, ou então um livro de códigos que precisam ser decodificados para então serem entendidos, analisando cada linha, cada ponto, para tentar extrair a mensagem oculta ali inserida. Porém, os textos não foram escritos com esse intuito de cravar uma data, de demarcar um lugar, ou mesmo de fazer com que haja acomodação pelo fato de ainda faltar muito tempo para se cumprir o prometido. Nessa linha de pensamento Morris declara que: “Jesus não dá um só sinal específico; mas adverte Seus seguidores a não se deixarem enganar pelos acontecimentos tumultuosos que ocorreriam no decurso do tempo” (MORRIS, 1983). De modo semelhante defendeF. Davidson ao dizer: “A profecia existe, não para podermos predizer o futuro, mas para interpretar o presente. Ela não satisfaz nossa curiosidade, mas livra-nos da perplexidade”. (DAVIDSON, 1995).

 

Assim como um cego necessita de um guia seguro para lhe conduzir durante o caminho, de igual modo as profecias e as declarações de Jesus servem de diretriz ao povo que lhe pertence. O próprio Cristo ao ser questionado diz: “Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai.” (Mt 24:36)

Em parte alguma das Escrituras pode se encontrar qualquer vestígio de uma especificação exata de dia, mês ou ano que se sucederão os acontecimentos que precedem o fim, Grudem argumenta que: “Já que ele voltará em hora inesperada, devemos estar prontos o tempo todo para sua volta. A consequência prática disso é que se deve considerar errado, de imediato, quem diz saber especificamente quando virá Jesus” (GRUDEM, 2012). Os sinais do fim não são para marcar uma data definida de quando se sucederá as coisas, mas para sempre lembrar que a promessa foi feita e não que não se deve esquecer dela.  Berkof ao citar sinais e prodígios diz:

A Bíblia fala de vários sinais que precederão o fim do mundo e a vinda de Cristo. Ela menciona (a) guerras e rumores de guerras, fomes e terremotos em diversos lugares, coisas descritas como o princípio das dores de parto, sendo que o parto é, por assim dizer, o renascimento do universo por ocasião da vinda de Cristo; (BERKHOF, 1998).

Por mais ansioso que possa ser o coração do povo de Deus pelo retorno de Jesus, não é recomendado que se tente prever o dia de seu retorno. Quando algo similar ocorreu na igreja em Tessalônica, Paulo buscou logo corrigir os irmãos daquela igreja, pois já se espalhava a notícia da volta de Cristo, o texto diz:

Irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com ele, pedimos que vocês não se deixem demover facilmente de seu modo de pensar, nem fiquem perturbados, quer por espírito, quer por palavra, quer por carta, como se procedesse de nós, dando a entender que o Dia do Senhor já chegou.  (2 Ts 2:1-2)

Cristo já veio uma vez, e muitos ensinamentos deixou, justamente para que ninguém fosse ludibriado por falsos ensinos. Assim, para melhor entendimento da sua segunda vinda, faz-se necessário focar no que Ele ensinou em sua primeira, é isso que defende o Rev. Leandro Lima ao destacar: “A mensagem escatológica do Novo Testamento permanece numa tensão entre eventos presentes e eventos futuros. [...] Por este motivo, não podemos entender a segunda vinda de Cristo sem entender plenamente a primeira.” (LIMA, 2018). Como narrado nas Escrituras, não é novo o anseio pela volta de Jesus, como também não é nova a falsa narrativa de que ele já veio, ou que vira em um mês ou ano. A exortação do apóstolo Paulo é para que não sejamos enganados com tanta facilidade, nem por homens, nem por anjos, nem por demônios.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tudo o que foi exposto pode-se concluir que ao longo de toda a história do cristianismo desde o primeiro século, onde os cristão da época podiam ainda gozar do privilégio de conviver com testemunhas oculares de Cristo Jesus e de seus apóstolos, até os dias atuais, que sinais do retorno de Cristo são anunciados e muito se alarma para a possibilidade de uma volta eminente do Salvador. As Escrituras são ricas em anunciar que Ele voltará, porém não trazem, propositalmente, uma data especifica. Por mais que desastres, sinais nos céus e o aumento da perversidade humana possam parecer que, enfim Jesus voltará imediatamente, tudo isso são mais alguns dos sinais pré-anunciados como defende Dewey M. Mulholland: “Estes desastres são característicos do intervalo histórico entre a ressurreição e a parousía. Eles são sinais da presença de Deus como juiz na história que está se movendo para o fim que ele tencionou.” (MULHOLLAND, 1999). O justo juiz saberá por um fim a história que Ele mesmo iniciou.

Do ponto de vista da pessoa que vive o momento naquele específico corte da história, sempre a situação parece pior do que a geração passada, como aborda George Ladd: “Os autores apocalípticos viam seus dias como os piores e os últimos, já que o fim dos tempos viria imediatamente. Mas suas predições apocalípticas não foram cumpridas;” (LADD, 1980).

Portanto o melhor a se fazer é continuar a crer nas profecias bíblicas e nas palavras do Senhor Jesus, continuar crendo em suas promessas e encher o coração de esperança, não de temor. Por mais que cada tempo traga consigo sinais que aparentemente mostrem o cumprimento das profecias do fim, Jesus deixou registrado que isso já aconteceria, para que ninguém fosse enganado e se desviasse do olhar Dele e se concentrasse em falsos ensinos. As guerras, doenças, abalos sísmicos, perseguição aos santos tudo isso mostra que Jesus sempre esteve certo ao nos advertir há milênios passados, mas parafraseando o próprio Cristo, ainda não é o fim.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BERKHOF, Louis. ESCATOLOGIA GERAL: i. a segunda vinda de cristo. In: BERKHOF, Louis. TEOLOGIA SISTEMÁTICA. São Paulo: Cultura Cristã, 1998. p. 691-703.    (BERKHOF, 1998)

CALVINO, João. A SEGUNDA VINDA DE CRISTO. Projeto Castelo Forte. (CALVINO)

DAVIDSON, F.. O NOVO COMENTÁRIO DA BÍLBIA: o sermão profético (mc 13.1-37). 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 1995. (DAVIDSON, 1995)

GRUDEM, Wayne. A VOLTA DE CRISTO: QUANDO E COMO?: quando e como será a volta de cristo? poderá ele voltar a qualquer momento?. In: GRUDEM, Wayne. TEOLOGIA SISTEMÁTICA: atual e exaustiva. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012. p. 931-945.   (GRUDEM, 2012)

HALE, Broadus David. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO NOVO TESTAMENTO: características da literatura apocalíptica. Rio de Janeiro: Juerp, 1983. 453 p. (HALE, 1983)

LADD, George. APOCALIPSE: INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO. São Paulo: Vida Nova, 1980. (LADD, 1980)

LIMA, Leandro. A GRANDE BATALHA ESCATOLOGICA: o combate jurídico na primeira vinda de cristo. 2. ed. São Paulo: Agathos, 2018. (LIMA, 2018)

LOPES, Hernandes Dias. APOCALIPSE: O FUTURO CHEGOU. São Paulo: Hagnos, 2005. (LOPES, 2005)

LOPES, Hernandes Dias. LUCAS: JESUS, O HOMEM PERFEITO: os sinais e a preparação para a segunda vinda de cristo. São Paulo: Hagnos, 2017. (LOPES, 2017)

LOPES, Hernandes Dias. MARCOS: O EVANGELHO DOS MILAGRES: a segunda vinda de cristo. São Paulo: Hagnos, 2006. (LOPES, 2006)

MORRIS, Leon L.. LUCAS: INTROUÇÃO E COMNETÁRIO: o discurso escatológico. São Paulo: Vida Nova, 1983. (MORRIS, 1983)

MULHOLLAND, Dewey M.. MARCOS: INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO: a descrição dos eventos ate a vinda do filho do homem. São Paulo: Vida Nova, 1999.    (MULHOLLAND, 1999)

TASKER, R. V. G.. MATEUS: INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO: a queda de jerusalém e o aparecimento do filho do homem. São Paulo: Vida Nova, 1980. (TASKER, 1980)

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