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Alcoolismo: seus impactos na vida do dependente e familiares.

           Um dos males que acompanham a humanidade desde sempre é o consumo desenfreado do álcool. Seja em comemorações ou até mesmo para aliviar o estresse. A bebida é vista como desafogo para muitos e seu consumo exagerado pode trazer graves consequências, sejam elas imediatas como em um acidente veicular fatal; ou mais brando como uma enxaqueca no dia seguinte; ou até mesmo uma vergonha alheia devido a embriaguez. Outra consequência pode se dar ao longo prazo, com consumos pequenos que vão aumentando com o tempo e culminam na dependência e vício na bebida, a pessoa se torna alcóolatra.

Ao olharmos para os relatos bíblicos percebemos que a bebida alcóolica faz parte da história, e esteve presente em diversos momentos e contextos distintos. Fosse em uma grande celebração, como em casamentos e até mesmo na ceia pascoal, mas também em episódios de duras consequências como no caso de Noé e Cam ou no caso de Ló e suas filhas.

Como percebemos, não é de hoje que o homem tem dificuldades de controlar a si próprio, e com esse intuito cada vez mais devemos nos alertar quanto ao perigo que o alcoolismo gera.

O que é alcoolismo e o que é alcóolatra?

Gary Collins em seu livro, diz que não existir um consenso entre todos e não existe uma definição aceita como a única e correta para definir o que é um alcóolatra, e que alguns consideram que é uma doença e outros não.

Vamos destacar algumas definições sobre o tema. A OMS define da seguinte maneira: “O alcóolatra e um bebedor excessivo, cuja dependência em relação ao álcool atingiu um grau tão elevado que passa a interferir, perceptivelmente, na sua saúde física e mental, na sua relação com os outros e no seu comportamento social e econômico”.

Já o dicionário Priberam¹ define como: “Que ou quem consome bebidas alcóolicas de forma abusiva e sistemática”.

 

            Seja qual for a melhor definição, o que podemos ter certeza é que quando o indivíduo não tem mais o controle e não consegue sozinho decidir parar de consumir bebidas alcóolicas, ele muito provavelmente já se tornou um alcóolatra. Collins destaca que “o alcoolismo é um vício progressivo que subjuga sua vítima, psicológica e fisicamente, mas também é uma condição moral pela qual o indivíduo é pelo menos parcialmente responsável”. Ou seja, tudo começa com uma escolha, que depois exige suas consequências.

Nível de alcóolatras no Brasil

Segundo a site Itatiaia.com.br², a OMS alerta para a quantidade de alcóolatras no Brasil, cerca de 3% da população o que representa 4 milhões de pessoas acima dos 15 anos de idade.

Certamente todos nós conhecemos pessoas que enfrentam problemas relacionados ao consumo excessivo de álcool, e é cada vez mais comum vermos jovens e adolescentes consumindo bebidas com teor cada vez mais elevado de álcool. Ninguém nasce viciado em nada, mas cada pessoa tem um organismo diferente e cada corpo reage de uma maneira ao álcool. O que pode se manifestar mais rapidamente a um, pode levar mais tempo em outro.

Collins destaca em seu livro alguns motivos que podem levar o indivíduo ao alcoolismo.

1 – Fisiologia e hereditariedade: defende que algumas pessoas herdam uma vulnerabilidade ao álcool de seus pais, quando comparado a filhos de não alcóolatras, a probabilidade de se tornar alcóolatra é quatro vezes maior. Como diz o livro, não é que uma pessoa nasça alcóolatra devido os pais serem, mas creio que possa herdar um organismo mais sensível aos efeitos do álcool que outras pessoas. Conheço pessoas que bebem o dia inteiro sem ficarem embriagados, da mesma forma que já outras se embriagam rapidamente com pequenas doses consumidas. Cada metabolismo responde de um jeito ao álcool.

2 – Influencias ambientais: o local que o indivíduo está inserido pode ser um fator que colabora tanto para o incentivo ao consumo, quanto para o abster-se de beber. Se o lar ou o ambiente de convívio for rodeado de pessoas que bebem e estimulam a bebida, o indivíduo tende a seguir o mesmo costume, já em ambientes que a prática de consumir bebidas alcóolicas não é praticado tende-se a ter pessoas que se abstém do álcool.

Pais que dialogam com seus filhos e lhes mostram as consequências de certas escolhas da vida, vejo que nutrem em seus filhos um melhor preparo para certos momentos da vida onde um importante passo é preciso ser dado, quando esse diálogo, por algum motivo, não ocorre, é provável que a decisão tomada seja mais difícil, devido a falta de preparo e aconselhamento.

Um exemplo dado no livro é a cultura judaica onde os pais em geral permitem que seus filhos bebam, mas a embriaguez é condenada e com isso a taxa de alcoolismo é baixa. Outro exemplo citado de mesma linha é em algumas denominações cristãs, e o número de pessoas com problemas relativos ao álcool também é baixo.

3 – Pressões sobre o indivíduo: os jovens e adolescentes ao fazerem parte da sociedade convivem diariamente com vários tipos de pessoas, sejam elas religiosas ou não, com cada qual com seu tipo de comportamento e moralidade. Um jovem certamente pode sofrer pressões diárias para se inserir no meio que ele vive. Tais como beber, usar drogas, namorar, trabalhar etc. Essas escolhas podem ser facilmente influenciadas pelo o que acontece em seu derredor. Propagandas de cerveja com festas, alegria e pessoas bonitas, amigos que bebem e se divertem à vontade, tudo isso pode ser tentador demais para evitar o primeiro gole. E esse primeiro contato pode ser fatal. Ele pode se conter e consumir moderadamente o resta de sua vida, pode não gostar e não mais provar, ou, pode perder o controle e ser o primeiro passo para o vício. Por isso é fundamental já na adolescência ter uma base e ocorrer o diálogo já citado anteriormente, para que ao se deparar com certas ocorrências da vida, conseguir fazer a escolha certa.

4 – Influencias agravantes: os problemas e dificuldades da vida podem fazer do álcool um escape, uma forma de esquecer, nem que seja momentaneamente, o problema que o aflige. O indivíduo pode demorar a perceber que precisa de ajuda se sua família se recusar a enxergar que o problema existe. É comum os pais tenderem a passar a mão na cabeça dos filhos e não reconhecer o problema. Isso só piora a situação e não ajuda em nada, uma vez que pode postergar um tratamento e dificultar ainda mais a cura do vício. Também se deve evitar o outro extremo, quando se tenta controlar o consumo de bebida ou até mesmo proibir, seja escondendo bebidas ou repreendendo de forma violenta. Isso pode gerar mais um motivo para a fuga na bebida. Isso pode acontecer via família, mas também via amigos, patrões e cônjuge.

5 - Influências espiritais: que o mundo jaz no maligno isso sabemos bem, todos os pontos destacados anteriormente acabam por se encontrarem neste último. Quando os valores bíblicos são conhecidos e respeitados a tendência e ter mais resistência a violar seus valores. Onde não há Deus a dificuldade sempre vai ser maior. Não significa que lares cristãos estão imunes a esse problema, mas com certeza lares não cristãos estão mais suscetíveis a ele.

O materialismo, egocentrismo, busca incessante pelo sucesso profissional, tudo isso corrobora para uma vida de distanciamento de Deus. Tudo o que tira Deus do centro e se endeusa no lugar, faz do homem seu escravo. Somente o Senhor é capaz de garantir a liberdade que concede a vida.

O que a bíblia fala a respeito do tema.

A Bíblia não apresenta uma proibição ao consumo alcóolico, nem mesmo se pode considerar pecado quando um indivíduo consome pequena quantidade de bebida alcóolica, mas com certeza ela ensina a moderação e nela encontramos vários exemplos de pessoas que pagaram um alto preço ao se embriagarem.

Collins destaca que Jesus realizou seu primeiro milagre transformando água em vinho e que muito provavelmente também consumia vinho e que o vinho fazia parte da ceia. Paulo orienta a Timóteo a beber um pouco de vinho, devido seu problema estomacal. Particularmente procuro não dizer que uma pessoa que ingere bebida alcóolica está pecando ou que tal ato desagrada a Deus, pois o que diria a uma pessoa que me apresentasse todos os exemplos acima? Diria que foram lhes dada concessões? Ou como alguns dizem, que o vinho da época era livre de álcool? Com certeza iria perder a confiança de quem me procurasse com essa dúvida e não seria fiel as Escrituras. Por isso prefiro mostrar o perigo do excesso e das consequências terríveis que o alcoolismo pode gerar.

Vemos muitos exemplos bíblicos de problemas gerados com o excesso de álcool, tais como o ocorrido com Noé, Ló, no momento da Ceia do Senhor na igreja de Corinto, entre outros. Além da Bíblia alertar contra a embriagues, “O vinho é escarnecedor, a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio”. (Provérbios 20:1); “Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne.” (Provérbios 23:20); “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;” (Efésios 5:18).

Não há como negar que a embriagues é veementemente condenada pelas Escrituras e deve ser evitada a todo o custo. Uma pessoa dominada pelo álcool não consegue se relacionar com Deus, não se dedica a obra e não consegue seguir os preceitos do Senhor. A Bíblia vai dizer que onde está nosso tesouro aí estará nosso coração, se somos escravos do álcool é ele que dita as regras em nossa vida. Mesmo não condenado o consumo moderado, a Bíblia também não condena a abstinência, a exemplo dos nazireus que escolhiam uma vida de devoção ao Senhor e total afastamento de bebidas alcóolicas. Hoje em dia muitas pessoas escolhem esse caminho de abster-se do álcool.

Outro ponto importante a abordar é com relação ao escândalo e mau testemunho, se procuramos ser luz e não escandalizar o mundo que queremos alcançar para Cristo, é fundamental sermos exemplo.

Como ajudar?

Criticas, bajulações, envergonhar o indivíduo, nada disso é ajuda. Isso pode fazer o efeito contrário ao esperado, um maior distanciamento e culminando na maior dificuldade de ajudar a pessoa a se libertar do vício.

Um passo importante é conseguir fazer a pessoa reconhecer que precisa de ajuda e que se encontra em uma situação de risco e dependência. Esse passo é difícil uma vez que muitos não reconhecem que se encontram assim.

Ao abordar o tema é necessário ouvir primeiro, para entender o que está passando na vida da pessoa, quais suas lutas e dificuldades. Ele pode procurar um conselheiro para pedir ajuda em outra área e aos poucos ir revelando o real motivo do problema.

Pré-julgamento não ajuda, é preciso conhecer as causas, apresentar os fatos que estão ocorrendo em sua vida e mostrar como suas ações tem prejudicado tudo a sua volta.

Collins orienta a um diálogo mais direto e claro ao invés de perguntar se a pessoa anda bebendo, ser direto e abordar o fato de estar sendo visto cambaleante, derrubando e quebrando coisas. Ou passar uma mensagem não verbal, como ao invés de limpar a sujeira causada pelo indivíduo, deixa-la lá para ele ver quando recuperar a sobriedade. Isso fará com que seja mais difícil a negação do problema.

Uma vez reconhecido o problema um passo importante é a procura de um especialista médico, o processo de desintoxicação é um período sofrido e requer tempo. Alguns conseguem parar de beber sozinhos ao passo que outros sem um acompanhamento médico não conseguem.

A luta para vencer um vício é muito grande e por isso é fundamental o apoio, e importante o amparo e mostrar que estamos do lado para vencer juntos a batalha. Sozinho é muito mais difícil e se a pessoa se sentir abraçada a tendência é ela ter mais coragem e ânimo para caminhar. Mesmo se uma recaída acontecer isso não significa que está tudo perdido, é comum tropeços ao longo do caminho, mas o mais importante é não desistir de seguir o objetivo e sempre reanimar a pessoa.

Considerações Finais

O tema alcoolismo em si é muito forte, principalmente se se tratar de um familiar ou um amigo próximo. Mas não há como negar que a cada dia mais e mais pessoas com idade cada vez mais baixa tem contato direto com o álcool e com isso tem mais chance de se tornar um dependente.

As Escrituras nos ensinam a amar uns aos outros e a levar as cargas uns dos outros, é preciso muita empatia e respeito para não tornar uma situação grave ainda pior. Uma pessoa com vício em consumir álcool excessivamente necessita de ajuda e amparo, o julgamento e a condenação não são nada eficazes na busca de ajudar o indivíduo a se libertar. É necessário estarmos preparados em quanto igreja para sabermos lidar com esse tema que ceifa milhares de vidas anualmente e que entram em nossas igrejas também.

Gary Collins destaca alguns pontos importantes na lida contra o alcoolismo e destacarei alguns:

·         A hora de se libertar é agora, assim como a ato de aceitar a Cristo como Senhor e Salvador, não a tempo a perder e não existe depois.

·         Estar livre do álcool é algo que vai durar a vida inteira, cada dia vencendo seu próprio mal.

·         Procure uma ajuda especializada, alguém preparado e disposto a ajudar. Sozinho é sempre mais difícil, mas um cordão de três dobras não se rompe facilmente.

·         É fundamental se afastar da bebida e de tudo que lhe aproxime dela, seja amigos, lugares ou festividades.

·         O principal é nunca se esquecer que Deus te ama e que Ele tem poder para mudar toda a situação, leia a Bíblia e medite nela, busque uma vida de oração e devoção ao Senhor.

No mundo teremos aflições e lutas, somos como ovelhas indo ao matadouro, mas cremos que temos um bom Pastor que deu a vida por nós e que nosso alvo não está neste mundo, mas sim na glória junto de nosso Pai que nos ama e nos quer.

 

Referências

¹ "alcóolatra", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/alc%C3%B3olatra [consultado em 27-06-2021].

² OMS alerta: Brasil tem mais de 4 milhões de pessoas alcoólatras. 2019. Disponível em: https://www.itatiaia.com.br/noticia/oms-alerta-brasil-tem-mais-de-4-milhoes-de-pe. Acesso em: 27 jun. 2021.

³ COLLINS, Gary R.. Aconselhamento Cristão: edição século 21. São Paulo: Vida Nova, 2004. 696 p.

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